terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Eduardo: Dia do Médico

Dia do Médico

Há momentos na vida em que qualquer que seja a posição do nosso corpo o espírito sempre esta ansioso. Foi assim que me senti quando me formei em medicina em 1975 em Belém! Diante de mim estavam aquelas duas criaturas encantadoras; meu querido pai e minha inesquecível mãe, e na hora do juramento eu pensava em nunca desapontá-los.
Recebi um diploma de médico e saí perplexo para o mais sublime dos ideais, tratar o meu semelhante, essa obra majestosa e complexa do nosso criador. E assim fui aprendendo, ora com meus erros, ora com os de meus colegas, “receitando drogas que pouca conhecia num corpo humano que desconhecia ainda mais!”.
E agora ultrapassando mais da metade da minha jornada médica, o tempo inexoravelmente impede-me de realizar tudo que meu pai programou para mim.
No “dia do médico” lembro-me que: “não se pode esconder uma cidade sobre um monte”. Na antiguidade as pessoas acendiam lâmpadas e a colocavam não debaixo do cesto de medida, mas no velador e elas brilhavam sobre todos nas casas. Como médicos necessitamos dissipar a escuridão lá fora sendo luz e escrevendo com o sangue do próprio cérebro páginas irrefutáveis de verdade através do livro branco, da abnegação, do devotamento e do ensino.
No “dia do medico” sinto a responsabilidade e a austeridade muitas vezes acompanhadas de trevas devido à inveja, a ganância e a violência que estão cada vez mais tomando conta de nossas vidas nesse sistema iníquo de coisas a findar.
No “dia do médico” lembro do respeito à santidade da vida pois é sagrada quer tenha segundos de formação num ventre, quer possua oitenta anos e já se aproxime do seu inevitável fim.
No “dia do médico” lembro da violabilidade da consciência humana como se a pessoa fosse um simples objeto. A medicina não é um simples emprego ou a posse de um diploma, porque um diploma na mão sem um cérebro iluminado, tornando-o humilde, bom e cheio de fé, é a mortalha de uma vida que falhou!

No “dia do médico” me pergunto como viver os altos padrões da medicina num mundo que cambiou os valores e as normas justas por outros financeiros e iníquos. Com a ênfase dada à tecnologia e à cura, as equipes médicas passaram a considerar a morte como um fracasso ou uma derrota... Assim o alvo primário do exercício da medicina tornou-se o de impedir a morte a todo custo. Com essa mudança veio o desenvolvimento de uma tecnologia inteiramente nova para manter as pessoas vivas por mais tempo do que era possível antes.
A tecnologia resultou em inegáveis avanços em muitos países; todavia tem dado origem a graves apreensões. Os médicos e suas maravilhosas máquinas! Muitos estão deixando fluir o maior fascínio dessa bela profissão que é a visão integral do ser humano, a medicina holística. A maioria dos médicos perdeu a pérola que, outrora, era parte íntima da medicina, isto é, o humanismo. A aparelhagem; a eficiência e a precisão expulsaram do coração de alguns o calor humano; a compaixão; a condolência e o importar-se com o indivíduo. A medicina é agora uma ciência fria, seu encanto é coisa do passado. O homem moribundo consegue derivar pouco consolo do médico mecanizado!
No “Dia do Médico” sei que amanhã mesmo aparecerá em nossa frente uma vida trôpega, viciada, doente e miserável. Ao examinarmos numa inspeção; notaremos um rosto marcado de desilusões, pela palpação um corpo cheio de dores, na escuta um coração dilacerado, trazendo as mãos vazias, derrotado e humilhado. Se for negada a compaixão a esse trapo humano que pediu pão e não teve, abrigo e não encontrou, justiça e não lhe fizeram. E além de humilhá-lo, rebaixaram-lhe o valor da vida e lhe contaminaram a carne. Essa vida chegará ao fim sozinha ainda mais descrente, abandonada, sem que tivesse um único beijo de despedida, sem uma única oração e provavelmente sem a ternura de uma mãe, de quem foi sonho, e por quem se verteu lágrimas de ventura, pois foi CRIANÇA, foi ESPERANÇA! Mas para Deus, sua memória será perpétua como a fé, eterna como a verdade, inolvidável como a saudade, grande como o seu gesto de oferecer tudo o que resta de si servindo a essa humanidade que por ele passou indiferente.
No “Dia do médico” recordo do euforismo com a criação do nosso Estado do Tocantins e lamento que no início o que assumiu a Secretaria da saúde conquistando o despojo entre os privilegiados usando sotaque que varia pouco, cujo o dialeto se adapta a qualquer lugar como recurso da camuflagem de corações empedernidos, perverteu-se pelas calúnias e enganos, se conduziu com os de paixões explosivas, olhos insinuantes e altaneiros, sorriso fácil, andar arrogante e desafiante, moral flexível impedindo assim a implantação nessa terra tocantinense O SONHO de um homem bom que imaginou um lugar onde: “O espírito é sem medo e a fronte se ergue; o conhecimento é livre; onde o mundo não foi dividido em pedacinhos por paredes domésticas; onde as palavras nascem do abismo da verdade e onde o incansável esforço estende os braços para a perfeição”.
E por fim quando penso no “Dia do médico” me reanimo com aqueles que curam sempre que possível, amenizam todas as vezes, e consolam sempre. Enquanto houver homem assim sobre a terra como disse o poeta “mesmo que o homem seja um ser mesquinho”, mas enquanto houver uma mãe junto a um berçinho, haverá esperança para o mundo, no reinado mundial do “Rei dos Reis” e “Senhor dos Senhores” e o MAIOR de todos os Médicos, O SENHOR JESUS CRISTO.

Dr. EDUARDO JOÃO MENDES BEZERRA
Médico paraense, formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará, pioneiro da urologia no norte Goiano e Tocantins.
Fone: 99812330 – 4143347- 4212330.
eduardojmbezerra@gmail.com

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