quinta-feira, 25 de agosto de 2011

um conto de JAURO GURGEL

O Vendedor de ovo de égua!



        Convém lembrar que o Ceará é conhecido nacionalmente, e porque não dizer nos quatro cantos do planeta, como uma terra seca, obrigando os seus filhos a fugirem para o sul do país, êxodo este contado em verso e prosa pelo nosso imortal poeta Patativa do Assaré, cujo centenário de nascimento estamos comemorando neste ano de 2009.
A minha saudação e a minha homenagem ao nosso mestre Patativa do Assaré, com os últimos versos da sua belíssima e emocionante poesia “A Triste Partida”. Quem não se emociona com estes versos: “Distante da terra tão seca mas boa / exposto a garoa / A lama e ao paú / Faz pena o nortista / Tão forte, tão bravo / Vive como escravo / Nas terra do sul!”.
Aliás, falando sobre a seca que maltratava o Ceará – maltratava, repito, pois graças a Deus, hoje está chovendo uma barbaridade – recordo que por volta da década de 60, quando o estado do Ceará era governado pelo coronel Virgílio Távora, o prefeito de um município da região do Cariri, no sul do estado, enviou um “telegrama” ao governador, reclamando da falta d’água e pedindo a sua autorização para decretar estado de calamidade pública no município.
 “-Não! Aguarde o equinócio!”, aconselhou o governador V.T., um administrador bastante equilibrado, e como tal, contrário a gestos extremos.

Passados alguns dias, um novo "telegrama” chegou às mãos do governador cearense, através do qual o prefeito informava ao mandatário maior do estado que tinha passado uma mão de cal nos meios-fios, enfeitado toda a cidade com bandeirolas da cor do partido, preparado a banda de música municipal e armado o palanque, mas até aquele momento o “Doutor Equinócio” não tinha chegado até a cidade.

Com certeza, o senhor prefeito municipal de – deixa pra lá, não vou dizer o nome do município “nem que chova canivete ou que a vaca tussa” – nunca leu o conhecido “Pai dos Burros”, para saber que equinócio é um substantivo masculino, cujo significado é: “Ponto ou momento em que o Sol, ao descrever a eclíptica, corta o equador, fazendo que os dias sejam iguais as noites, em toda a terra.”.

Mas a “santa ignorância” do senhor prefeito não considerou tão absurda como a de outra autoridade, formada em “direito” – só não sei em qual faculdade – e que morava e se estabelecia profissionalmente em Araguaína, quando eu lá cheguei, isto em maio de 1981. À época, o município pertencia ao norte do Estado de Goiás, hoje o progressista e desenvolvido Estado do Tocantins.

Quando eu cheguei a Araguaína, repito, no inicio de 1981, ministrava aulas de Literatura Brasileira, História do Brasil e OSPB, no Colégio Integrado de Araguaína, e em certa tarde eu recebi um telefonema do dito cujo advogado, que do outro lado da linha me falou, mais ou menos nestes termos:

“-Professor Jauro, eu estou fazendo uma petição ao senhor juiz, e quero citar uma frase, mas me deu um branco e não recordo o nome do seu autor. É aquela que diz mais ou menos assim: vim e venci, e não sei mais o que!”.

Embora não seja eu nenhum sábio, por sinal seguidor fiel da frase de Sócrates, que sempre afirmava: “A sabedoria está em não pensares que sabes o que não sabes!”, imediatamente respondi ao consagrado causídico araguainense: “-Esta frase é do grande Júlio César, que em uma das suas conquistas disse: vim, vi e venci!”.

Uns cinco minutos após, ainda estava ministrando aula, a secretária do colégio vem até mim, para comunicar de outro telefonema. Peço licença aos alunos e vou até ao local do telefone, e de imediato reconheço como sendo do mesmo advogado a voz do outro lado da linha.

“-Professor Jauro, o senhor tem certeza que esta frase ‘vim, vi, e venci’, é mesmo de Júlio César?”- questionou o advogado.

“-Certeza mais que absoluta!”, respondi, e inclusive fiz a citação na versão original, ou seja, em latim. E perguntei: “-Por que esta dúvida, doutor...?” – é claro, lógico e evidente, que o seu nome será mantido no mais profundo segredo.

E a sua resposta foi brilhante: “-É porque eu estou de posse de um cartaz com o nome dos presidentes da república, e não tem este Júlio César. Tem Juscelino, Jânio, Jango, João Figueiredo, mas este Júlio César não tem!”,

Um lembretinho: como tal fato aconteceu entre 1981 a 1982, o nome do José Sarney não constava ainda no tal cartaz, haja vista que foi somente em 1985 que ele assumiu a Presidência da República.

PUBLICADO NO JORNAL O PROGRESSO DE IMPERATRIZ MA

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